segunda-feira, 17 de agosto de 2015


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Alternadamente tombam e se erguem os andaimes. Daqui vejo o movimento desordenado. A água escoa rua afora, arremedos de pontes se estendem sobre os mananciais. O fluxo dos veículos se altera, assim como o dos passantes que disputam ferozmente os raros trechos ainda secos de chão. Quando a madeira se rompe o estalido é horroroso, faz-se um instante de silêncio antes do estardalhaço. E então os joelhos encharcados de água turva começam a se debater na corrida por uma elevação abruta ou suave, algo que os livre do nível do chão. Ela passa pelo epicentro do  desastre. Pisa firme no chão inundado, ajuda a recriar o maremoto, altera o fluxo da devastação. Passa rente  a um corpo que arde sob uma camada grossa e o outro que procura um rumor de frio.  Anda entre os corpos que se desejam ou se repelem, encostando uns nos outros, pedindo desculpas, trocando olhares famintos, apressados ou sonolentos. Ela é feita da mesma matéria dessa água que subitamente se rebela contra os caminhos de ferro e aço. Na linha imaginária traçada entre os corpos, uma mão por vezes rompe a  barreira. Um corpo frio se queima com um toque quente, outro endurece rente a uma pele estranhamente familiar. Os sonhos revestindo as pálpebras, os tremores olhos afora, tudo em confusa e ruidosa navegação. Quem os guia? A ideia da manhã que chegará avara de sentido, a tarde imersa na matéria de oceano, lágrima, benção, soro. Desejos calados em bocas que ardem, dissolvidos em tédio, sobrevoos, lampejos de muda compreensão. Passou com a rapidez e o modo de um desastre. Súbito fluxo que emerge, o cultivo das inundações. Invenção e quebra de precárias pontes. 

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