quinta-feira, 27 de agosto de 2015

18


Um assombro sem maiores consequências. Depois um silêncio arrastado, algumas abstenções, a leitura da ata. Manuseio o arquivo com cuidado excessivo. Demoro-me na descrição das rotinas, na listagem dos nomes indigentes, nas contagens não-exatas do tempo e das oscilações. Mais tarde daremos uma volta inteira na cidade, passaremos pelas divisas ao norte e ao sul. Ainda tenho os cabelos endurecidos pelo sal, os cochilos sobre a pedra, a caminhada do oceano até a sua casa. Cuidadosamente forjo a minha partida. Levo comigo as impressões que deram errado, os moldes rejeitados, o que foi parar no fundo das gavetas. Respondo bom dia, sirvo-me de café, sento de frente para a parede ignorando o mar lá fora como parte da estratégia. Agora corremos na direção oposta aos portões. Antes de ir embora não esqueci de cortar os fios dos telefones. Inspiro longamente nesse instante no qual coincidem a ruína e inauguração. Na verdade nunca houve crime algum. Você corre ao meu lado  alheio aos meus pequenos delitos, aos meus planos de ataque seguidos dos rompantes de alegria. A opacidade dos dias passados se assemelha, em quantidade e em consistência, ao imprevisível dos que ainda virão. Ainda sinto palpitar o local onde mantive o explosivo durante a maior parte do dia. Viramos a esquina agora, você propõe um desvio inesperado. Ouço ao longe um barulho de explosão.  

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