sábado, 29 de agosto de 2015

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Na primeira volta os pés ainda tocam o chão. Mistura de impulso e frenagem, corremos contra a ventania a despeito do céu nebuloso e das prováveis vozes que nos chamam lá de casa. Experimentamos as mais diversas velocidades. Algumas que não nos levam a parte alguma, outras que nos impulsionam num giro ao redor de nossos próprios eixos e, finalmente, as que nos suspendem totalmente. A minha blusa de lã grossa se encharca de suor. Você já está sem a blusa e os sapatos. A cada mão que escapa ou pouso que resulta num deslize nos ocorre que talvez seja hora de parar. Mas basta um rodopio, uma risada de entendimento ou de total incompreensão para que comecemos tudo mais uma vez. Muitas vezes colidimos nossos corpos com força. Com frequência você vai parar lá longe e eu me condiciono a cair rente às argolas de metal. Concentro-me em ressurgir impassível enquanto você se levanta prontamente dando uma gargalhada. Escapamos da densidade da tarde morna forjando trajetos aéreos, lidando com as quedas como quem lida com súbitos despertares no meio da noite quieta. Nuvens carregadas se adensam sobre nós, nada nos protege mais que a fúria e alegria de nossos corpos. Quando os primeiros pingos de chuva grossa atingem o meu rosto tenho os olhos fechados e a boca aberta. Quem me visse de longe não saberia se tenho sede ou se sorrio.   

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