construo um parapeito
arrasto móveis centenários
crio uma disposição que o feng shui diria trágica
sal atrás das portas
arruda, pimenta, comigo ninguém pode
entro no vagão por um triz
escapo de acidentes, beiro os desastres
sou toda bondade, cedo alegremente meu lugar
mas ninguém sabe o que planejo
do demorado trabalho que resultará
num estado de lucidez
alheio à diplomacia, ao bom senso
ninguém sabe quantos já fiz cair na armadilha
e menos ainda que todos estão sempre loucos para cair
nisso consiste o feitiço
cuidar para que haja a grande possibilidade da perda
nada resiste a se abandonar
hoje é dia útil, sorrio para estranhos
ignoro grosserias
dou mais um passo na direção do que evoco
tão imaginária quanto fatal, é natural a comunhão
com a terra que estremece, o céu que oscila
as nuvens que se abrem
regidos pelo descontrole que nos une agora
conforme a mesma contingência
que traçou meu destino e de novo o desmente
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