sexta-feira, 4 de setembro de 2015

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Por enquanto têm o passado para supor as dimensões e o formato do que os atingirá. Há um corpo que se debate enquanto sonha, outro que vem correndo de longe e para no instante errado querendo tomar fôlego. Há corpos que se banham, outros saem para caçar ou porque sentem o chamado, os que são dados como desaparecidos, os que se aninham junto ao fogo. Ninguém conversa sobre o ataque, mas  há  quem não pare de lapidar as pedras até estejam com formato e  fio de lança. Conforme se aproxima a investida, as festas se tornam mais rigorosas. Os que se amam experimentam delícias incalculáveis. Os que gostam de beber e comer se fartam e se embriagam como nunca. Há os que fazem viagens para dimensões sequer nomináveis. As crianças brincam de erguer e destruir reinos feitos de pedras. Caçam peixes no raso, colecionam cascos de moluscos e caracóis. O melhor caçador chora sem cessar. Os idosos experimentam beberagens e dançam até amanhecer. Os que leem a sorte se mantêm tranquilos, continuam trabalhando na roça, concertando telhados, capinando o mato. No momento do assalto, há os que se lançarão inadvertidamente sobre o perigo, os que recuarão até o ponto de onde jamais conseguirão retornar e os que se manterão de pé até o último segundo, sem convicção na vitória e nem na derrota, encarando o perigo sem certezas, ou seja, lutando.   

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