domingo, 6 de setembro de 2015

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Matéria frágil rente às ventanias, às chuvas abrasadoras, à margem dos sumidouros. Ao sul preparam os abrigos e algumas barricadas. Aqui, no centro, testemunho uma separação, dois corpos que se sustentavam mutuamente já não se entendem mais. Um homem encanta uma serpente com sua flauta, os corpos se acusam e se traem, eu hipnotizo minhas próprias pernas emitindo um mantra que mistura o som do seu nome, algo que remeta ao enigmático futuro e a notícia da incompatibilidade que há entre o medo e o amor. A matéria frágil somos todos nós andando de um lado para outro atrás de algum rompante, algum alívio, alguma inevitável inspiração. A ameaça são as quedas, os embates, o que emerge e o que se infiltra, os entendimentos sempre sucedidos por dura incompreensão. Ao norte os feitiços já foram conjurados, filtros de amor e bonecos de vudu, agulha certeira bem no lado esquerdo do meu peito, explosão no céu agora. E então essa vontade de sair correndo em disparada derrubando obstáculos e reerguendo os vencidos. Vontade de consultar oráculos para confirmar que esse espaço em branco no centro  da minha linha da vida não significa nada além de um profundo amor pela indefinição. Talvez você já esteja muito longe, talvez pense que nada vai se alterar. Mas existe aquele instante imprevisível quando tudo muda sem remédio, aquele instante sagrado ao qual me lanço na hora precisa e derradeira que tem o nome de agora.    

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