segunda-feira, 7 de setembro de 2015

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Madrugada na cidade grande. Eu atravesso a rua e você pede licença para chegar até o corredor do avião. Eu atravesso uma via na contramão enquanto você contempla a cidade a 3000 pés. Noite alta na cidade quente, e o calor vence silenciosamente as ventanias esporádicas e então se restabelece como atmosfera. Eu estou no meio de uma multidão que tenta se esquecer cada qual de uma promessa, você dorme em altitude de cruzeiro. Eu me esquivo de uma armadilha enquanto você passa a cem por hora pelo aterro. Desconheço a identidade de quem te espera no sofá, você também não faz ideia dos destinos que prescrevo ao taxista. No une, nesse instante, a indiferença à chuva enquanto todos correm pulando poças, errando a mira, tapando o alto da cabeça com algum volume. Eu jogo baralho num quarto de hotel, você encara o Edifício Noite através da janela em uma edícula.  Me equilibro em um pé só dentro de um banheiro tentando tirar a meia-calça, talvez passe pela sua cabeça a ideia das minhas pernas nuas atravessando o temporal na noite quente, você agora talvez tente voltar para casa ou busque por alguma coisa crucial. Os contornos esmaecem nessa hora em que noite e dia se confundem e o alaranjado solar mancha o azul profundo, o momento da virada é  inexato mas inconfundível. Quando o dia irrompe, estamos distantes, com apetites diversos, mas com a mesma sensação de havermos desperdiçado algo precioso. Eu encontro alegria na experiência do dispêndio. Quanto a isso , sobre você, eu já não sei. 

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