Coração, me dá um tempo. Não bastasse esse cachorro que não para de latir, devem ter ido viajar e esqueceram o bicho na área de serviço. Pera aí que eu volto já. Só vou ali na Atlântica tomar um ar. Fiquei de pagar o homem da feira, aproveito e trago um frango assado pro almoço. Mas vem você aí com essa desconfiança, essa atenção ao inexistente. Não me chateia não que meu dente tá doendo e eu to morta de medo. E se for canal? Acho que vou na igreja, sessão do descarrego, pra ver se me curo de uma vez. Tá rindo do que? Acha que eu não tenho a minha camaradagem com Deus? Vai vendo, meu querido, Deus me dá a maior força. Depois eu vejo o que a gente faz com esse rombo no sofá, esse desencontro, esse apego desesperado à matéria rala que nos mantém. E qual que é o problema? Eu só gosto é de dar essa voltas assim sozinha, colocar os pensamentos em ordem, alimentar os bichos, deixar os pombos da pracinha bem gorduchos. Depois eu aproveito dou um alô pras meninas lá no clube. Não tem nada de má influência não, meu filho, tudo que eu faço de errado é porque vem um demônio me tentar, ou então é porque eu quis mesmo. As meninas do clube são ótimas, você vai ver. A gente gosta é de comer fritura, passar óleo bronzeador e tirar cochilo em cima da boia. Caramba, agora que eu lembrei do sonho que eu tive hoje, escuta só. A gente morava num casarão, vinha aquela sua ex-namorada e fazia uma faxina daquelas. Eu achava estranho, mas nem reclamava não. Aí você saía pra pescar, vara na mão, cesta e um chapeuzinho. Era um dia lindo, eu botava um vestido levinho e ficava dançando pela casa com cheiro de pinho sol. Aí de repente eu tinha essa ideia que era quebrar todas as louças na cabeceira da cama, colocar seus livros da banheira e encher de espuma. Eu pegava todos os seus livros de literatura russa e toma de sabão. No sonho isso era a maior piada, eu tinha certeza que você ia morrer de rir quando voltasse. No fim, eu escancarava as janelas e soltava o teu canário belga que saía voando todo alegrinho. Agora eu vou ali, não demoro nada, mas também não precisa me esperar.
terça-feira, 1 de setembro de 2015
23
Coração, me dá um tempo. Não bastasse esse cachorro que não para de latir, devem ter ido viajar e esqueceram o bicho na área de serviço. Pera aí que eu volto já. Só vou ali na Atlântica tomar um ar. Fiquei de pagar o homem da feira, aproveito e trago um frango assado pro almoço. Mas vem você aí com essa desconfiança, essa atenção ao inexistente. Não me chateia não que meu dente tá doendo e eu to morta de medo. E se for canal? Acho que vou na igreja, sessão do descarrego, pra ver se me curo de uma vez. Tá rindo do que? Acha que eu não tenho a minha camaradagem com Deus? Vai vendo, meu querido, Deus me dá a maior força. Depois eu vejo o que a gente faz com esse rombo no sofá, esse desencontro, esse apego desesperado à matéria rala que nos mantém. E qual que é o problema? Eu só gosto é de dar essa voltas assim sozinha, colocar os pensamentos em ordem, alimentar os bichos, deixar os pombos da pracinha bem gorduchos. Depois eu aproveito dou um alô pras meninas lá no clube. Não tem nada de má influência não, meu filho, tudo que eu faço de errado é porque vem um demônio me tentar, ou então é porque eu quis mesmo. As meninas do clube são ótimas, você vai ver. A gente gosta é de comer fritura, passar óleo bronzeador e tirar cochilo em cima da boia. Caramba, agora que eu lembrei do sonho que eu tive hoje, escuta só. A gente morava num casarão, vinha aquela sua ex-namorada e fazia uma faxina daquelas. Eu achava estranho, mas nem reclamava não. Aí você saía pra pescar, vara na mão, cesta e um chapeuzinho. Era um dia lindo, eu botava um vestido levinho e ficava dançando pela casa com cheiro de pinho sol. Aí de repente eu tinha essa ideia que era quebrar todas as louças na cabeceira da cama, colocar seus livros da banheira e encher de espuma. Eu pegava todos os seus livros de literatura russa e toma de sabão. No sonho isso era a maior piada, eu tinha certeza que você ia morrer de rir quando voltasse. No fim, eu escancarava as janelas e soltava o teu canário belga que saía voando todo alegrinho. Agora eu vou ali, não demoro nada, mas também não precisa me esperar.
Coração, me dá um tempo. Não bastasse esse cachorro que não para de latir, devem ter ido viajar e esqueceram o bicho na área de serviço. Pera aí que eu volto já. Só vou ali na Atlântica tomar um ar. Fiquei de pagar o homem da feira, aproveito e trago um frango assado pro almoço. Mas vem você aí com essa desconfiança, essa atenção ao inexistente. Não me chateia não que meu dente tá doendo e eu to morta de medo. E se for canal? Acho que vou na igreja, sessão do descarrego, pra ver se me curo de uma vez. Tá rindo do que? Acha que eu não tenho a minha camaradagem com Deus? Vai vendo, meu querido, Deus me dá a maior força. Depois eu vejo o que a gente faz com esse rombo no sofá, esse desencontro, esse apego desesperado à matéria rala que nos mantém. E qual que é o problema? Eu só gosto é de dar essa voltas assim sozinha, colocar os pensamentos em ordem, alimentar os bichos, deixar os pombos da pracinha bem gorduchos. Depois eu aproveito dou um alô pras meninas lá no clube. Não tem nada de má influência não, meu filho, tudo que eu faço de errado é porque vem um demônio me tentar, ou então é porque eu quis mesmo. As meninas do clube são ótimas, você vai ver. A gente gosta é de comer fritura, passar óleo bronzeador e tirar cochilo em cima da boia. Caramba, agora que eu lembrei do sonho que eu tive hoje, escuta só. A gente morava num casarão, vinha aquela sua ex-namorada e fazia uma faxina daquelas. Eu achava estranho, mas nem reclamava não. Aí você saía pra pescar, vara na mão, cesta e um chapeuzinho. Era um dia lindo, eu botava um vestido levinho e ficava dançando pela casa com cheiro de pinho sol. Aí de repente eu tinha essa ideia que era quebrar todas as louças na cabeceira da cama, colocar seus livros da banheira e encher de espuma. Eu pegava todos os seus livros de literatura russa e toma de sabão. No sonho isso era a maior piada, eu tinha certeza que você ia morrer de rir quando voltasse. No fim, eu escancarava as janelas e soltava o teu canário belga que saía voando todo alegrinho. Agora eu vou ali, não demoro nada, mas também não precisa me esperar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário