domingo, 11 de setembro de 2011

Entre nossas mãos havia o pacto dos movimentos ternos e daqueles que tornam migalha o corpo da matéria espessa. Sustentávamos o peso do que não podia ser dito nas fundações levíssimas de um tédio brando, invadindo-nos com os instrumentos afiados de nosso afastamento. Eu respondia aos teus gestos curtos com um sorriso que era inteiro ânsia, como se coubesse no oco entre meus lábios a dor incomunicável da minha primeira fome. E, enquanto te olhava em silêncio, mantinha guardado na minha mudez o enigma que me devorava (dentro do meu ouvido, falharia tua voz?). No íntimo, sempre fui grata a tudo que me ofendia. E então te confessava meus tropeços, meu extravio. Te revelava a cartografia do meu excesso, minhas vozes sustenidas, minha santa inquisição, minha penugem desvairada, a minha dor sempre querida . E se persistíamos na errância de nossos dentes é porque estávamos muito interessados na prática do erro pela superfície dos corpos. Pois até que nossos lençóis virassem cárcere, eu persistiria te tocando. Nem tormentos nem carícias me fariam renunciar teus olhos sempre tão remotos, sempre recriados, feitos da tua beleza recém-nascida, da tua beleza desusada. Eu te mostrava meu rosto bizantino, meu corpo de serpente, esperando que transgredisses teu recolhimento iluminado, teu desespero terno, e me habitasses - que sou tua ruína, que sou teu universo inteiro no primeiro dia da criação.

Um comentário:

  1. Um amigo meu me mostrou esse blog, me dizendo sobre a maneira que você escrevia. Resolvi dar uma conferida e fiquei impressionado, a sua escrita é muito bela, moça!

    Também tenho um blog, não com textos tão bons quanto os teus, mas são sinceros. Se quiser dar uma conferida:
    http://quaseumsentimento.blogspot.com/

    (:

    ResponderExcluir