domingo, 11 de setembro de 2011

Remetentes surdos

Ao céu que arranhei.

Teu rosto, o céu depois da chuva. Luz calma e antiga por entre as nuvens carregadas. Milagre do nascimento, o teu corpo amanhecido. Tua luminescência, aridez, palidez das tuas unhas. A brancura do teu rosto, céu furado por agulhas. Nudez da tua orelha, adorno do teu corpo cândido; ausência de teus enfeites, pele do teu corpo obsceno. Ameaçar o céu com perigosas armas, tua pele clara onde sobrevivem tuas feridas. Amo tuas dores, céu machucado por raios violentos. Tuas lesões fundamentais, teu olhar solitário, tua solidez eólica. Desejo teu corpo leve de caminhos para o ar, tuas tempestades súbitas, teus ouvidos rasos. Invado tua pele fechada, os teus poros sufocados. E amo tua boca que cala, o teu silêncio noturno,a extensão da noite feita da tua espera arcaica. Teu rosto atemporal, a eternidade que herdaste em tua pele. Tuas verdades inscritas nas feridas, e tuas feridas que nunca se fecham, que só caminham para dentro. Te ter, explícita, te ter, crua, te ter, lânguida, e depois te ver sumir. Esmaecer, vapor. Anoitecer, solstício.

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