domingo, 11 de setembro de 2011

Remetentes surdos

Às quedas.

Desmedido dos meus passos, proteção vazia dos meus saltos. Paraísos gasosos em que esbarro, vácuos estelares. Montes helenos fundados sobre o ar. Vos amo, porque sois matéria rarefeita, inexplicáveis corpos. Porque, se piso em vós, despenco. Porque vos exibis, corpos densos, virgens de toda mão, inocentes de qualquer toque. Perdoai, quedas minhas, se vos ofendo com o peso de meus pés, que anseiam tolamente pelo solo, que desprezam tais terrenos impalpáveis, que recusam o caos ligeiro destes raptos aéreos. Pois não há em que segurar quando a única solidez que me acompanha é a dureza de que sou feita, e quando tenho como chão somente o terreno dos meus pés. Carregar a ti, vertigem, como constante ameaça e generosa sorte. Temer-vos, quedas, e amar-vos, por tocardes meu corpo endurecido de tanto chão com a suave pele de vossas verticais mãos.

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