quinta-feira, 8 de setembro de 2011

do diário da Anaïs Nin


Coisas rodopiando. É noite e fui forte o dia inteiro.

No táxi como Ana Maria, olhei para seu rosto jovem e me perguntei: qual é o maior presente que posso dar a ela, para iluminar sua vida, para fazer o mundo tremer por ela?

Sabedoria e sensualidade - estas serão minhas asas

Hugh está sereno, estudando astrologia. Uma serenidade linda - inalcançável. Eu lhe trouxe um compasso de presente. Desenho círculos para ele. Gosto de admirar seu conhecimento, a mim impenetrável.

Hoje meus nervos estão em frangalhos. Mas sou indomável.

tudo o que me importa neste momento é a alegria suprema de girar junto com a Terra e morrer ébria, morrer enquanto giro em vez de morrer afastada, vendo a Terra girar em cima da minha mesa como um desses globos de papelão à venda na Printemps por 120 francos. Sem iluminação. Assim é mais caro. Quero ser a iluminação no globo e a dinamite que explode na máquina da gráfica um segundo antes de colocarem o preço na página. Quando a terra gira, minhas pernas se abrem para a lava que escorre e meu cérebro congela no Ártico - ou vice-versa -, mas tenho que girar, e minhas pernas sempre se abrirão , mesmo nas regiões do sol da meia-noite, pois não espero pela noite - não posso esperar pela noite - não quero perder um ritmo sequer dessa trajetória, uma única batida desse ritmo.

talvez eu não passe de uma escritora, pois enquanto tomava o café-da-manhã eu perdi o interesse em todos eles e desejei ardentemente estar em Louveciennes com meu diário. Cheguei em casa após dormir umas poucas horas, depois fui para a cama, depois escrevi. Almocei, dormi como um soldado, me masturbei e voltei a escrever.

não quero seus êxtases - os meus são como axinita, cuja borda cristalina é como a borda de um machado.

a necessidade de tragédia é uma necessidade profunda. É a descida rumo às minas de carvão, à descoberta. Deixo a água me afundar para chegar à Atlântida. Um hábito antigo. Minha chumbada. Minha grilhagem. Minha bússola. Meu barômetro. Isso me faz rir.

Tudo cintila dentro de mim, como se alguém apertasse com os dedos sobre meus olhos fechados.

Uma noite ele olha para o meu rosto e diz que naquele instante eu pareço egípcia, escura, invencível, obcecada

Eu queria deitar no fundo do oceano, viver lá au fond des choses, toujours au found.

Vou adiante em alta velocidade, vou causar sofrimento, ninguém pode me acorrentar, sou uma força, e o dia todo sinto que algo me empurra, empurra. Encho páginas e mais páginas com minha febre

Eu também vou deixar uma cicatriz no mundo.

Para o inferno, para o inferno com o equilíbrio! Quebro os vidros; quero queimar, mesmo que eu mesma me estilhace.

O desejo de iluminar o caos; de criar a partir do caos; de erguer as massas; de escapar aos mistérios, à incerteza, à inércia; de provocar e conquistar a passividade - esse foram os motivos da dor e alegria mais profundas.

Caminho como um acendedor de lampiões; empurro navios rumo ao mar aberto, descubro objetos preciosos; removo a pátina de pinturas escurecidas; afino, ajusto, desvelo, moldo, exponho, conflagro, apóio, sustenho, inspiro; planto sementes; prescruto cavernas; decifro hieróglifos; leio o olhar dos outros - sozinha - sozinha em meu ofício. Marte com um manto vermelho-sangue e bracelete de aço solar.

Não sou contra nada, pois tenho meu modo particular de usar tudo, de transformar tudo em alimento.

Quando quebrei a tigela de cristal e a água derramou, será que eu estava destruindo uma vida artificial, irreal, contida, deixando a vida fluir? Catástrofe e correnteza.

Vou ficar feliz se as coisas explodirem. É o certo.

Acredito em magia, em milagres! Tudo é tão misterioso e belo, fico sem palavras. A vida me deixa sem palavras.

Mas o absoluto, o absoluto me assombra.


Um comentário:

  1. Deixa eu te admitir umas coisas: achei seu blog por acidente, pesquisando alguma coisa sobre ana c., faz mais ou menos um mês. gostei muito da sua escrita, o modo como vc se expressa (lembra um pouco a ana. projeções?) e desde então venho periodicamente ler seus escritos.

    agora tomei coragem de seguir e escrever - oficializar, né!bom, é isso. Abç
    ah! tenho um blogue também, caso se interesse.

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