quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Sou sua, tempo rei, faça-me contradições fecundas" (Julia Panadés)


viria a noite e seus mormaços, dormiria com inimigos e com cigarros acesos esquecidos. a noite era essa pequena infância, tão próxima do antes de nascer. quando anoitecia morria de fome, ficava faminta e insone e só se curava em peles ásperas. tinha a alma náutica, corpo de mariposa, amava lâmpadas, farois, toda luz que fere a escuridão. quando se viam, nadavam um no outro , às vezes seus dentes se faziam âncoras. fechava os olhos e pensava que aceitava a vida, que viesse e a derrubasse, ela beberia de muitos vinhos e se salvaria em muitos olhos. por enquanto o instante dissolvia qualquer fim no escuro mais fundo das horas.

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