Senhora das vagas, ondula meus cabelos com a tua língua quente.
Me abraça com teus mil dedos de lâmina, dedos de peixe prateado que corta o escuro veloz. Senhora do meu assombro, dos naufrágios em silêncio, me toma pelos olhos, faz do meu peito um reino teu. Planta fundo em minha carne o aguilhão da correnteza. Implica um quinhão de força impiedosa nos meus atos mansos. Minha pele na tua, espelho d’água, me ensina no abraço a tarefa do que afunda e sustém. E no teu corpo crespo deixa que eu aprenda o equilíbrio. Navegar com a coragem insana dos que se sustentam no mover daquilo que não podem controlar. Senhora do mar, salga minha pele. O sal faz arder ferida aberta: essa é a tua benção, tua caridade. Senhora de todos os berços, vive em minha pele, sussurrando em meus ouvidos, para que eu não esqueça fácil, que onde o tesouro reluz é onde o ar acaba, e que no terreno movediço é onde o corpo aprende a se botar de pé.
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