domingo, 5 de janeiro de 2014

(fotografia: Laura Makabresku)

- onde estás? 

- acima ou abaixo de onde aceno. estou longe, colado aos pés da mesa, sob tuas coxas, entre os lençóis. vês?

- vejo, mas não creio. mancha que és. sopro. toca meus ossos para que eu saiba. vejo que oscilas, que tua carne treme. queria fincar teus dois pés no chão. queria que teu corpo fosse uma torre antiga, dessas que sobrevivem a passagem do tempo, os bárbaros, os raios, a espuma.

- estar contigo não é de pedra. é sal sobre a madeira. metal oferecido ao humor do céu. ferrugem. luz pouca onde se encena o teatro das sombras leves. é vago e cai.

- a mim bastaria que fosse um eixo. centro do meu corpo, norte da minha razão. queria teu corpo pleno, duro feito a terra, com a constância de um aço. 

- te toco pelo risco. o centro da terra, feito um coração, também ele nunca para, explode, escorre, junta e arrebenta. queima, varre. estar junto nunca é bastar, é arte de exceder e de faltar. 

- sonho com altitudes. uma luz plena que, súbito, falta. dança dos astros. mergulhos. toda hora esses mistérios verticais. esses eclipses. me vês e não ocupo o centro?

- não é que não o ocupes. é que centro mesmo não há. mas sobram bordas, pele e margem. o corpo é todo periférico, como o tocar. frequento-te litoralmente, me apresento às tuas beiras, luz amena que se estende.  

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