segunda-feira, 12 de junho de 2017

Museu de História Natural

Persigo o estado meditativo 
rodeio os esqueletos do Cretáceo
Permaneço atenta ao ar que inspiro
e expiro, tento deslizar
cuidando para não pensar demais
afronto a queda, fluo
como quando andei bêbada de bicicleta
A vida é frágil, firme e se estende
nas altitudes rarefeitas
nos abismos preenchidos de água escura
no cerne da matéria densa
Há vida no oco, nas eras geológicas, em mim
Há em mim uma extinção, uma matilha
um estranho recurso mimético
Há vida marinha nos meus ossos
Há a insubmissão das feras e a circunspeção das plantas
Mas também não há nada disso: há o mistério
de eu estar tão decididamente aqui e ser supérflua
à cada forma de vida que me precede e especialmente
às que me sobreviverão
Tento não coincidir com o que penso
mas algo em mim celebra
essa inesperada liberdade

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