sexta-feira, 22 de julho de 2016

Foto: Felipe Vernizzi 


é na próxima esquina que encontro: cintilância, punhal, embarcação. mãos que não pedem nem repelem, a impossibilidade de olhar a olho nu. retorno aos objetos sobre a mesa: chave, faca cega, a pequena lamparina. o centro do quarto onde orbitam os insetos, onde não sei se perco o que sustenta, se ganho um outro eixo. começo a forjar uma passagem, primeiro as pernas contra o chão depois os braços na direção mais improvável. onde passa a linha do equador, nos meridianos impiedosos. onde há um vulcão que adormece se cantamos. onde há os bichos antigos, os que ameaçam, os que se ocultam. onde há a terra quando ondula, quando cede, quando se estende sem esmorecer. onde não há nem sinal do que ainda há pouco ordenava o ritmo e a continuidade do céu e da dança de todos os astros. onde há a pista de um outro encontro: fulgor, ternura, estilhaço. desde agora, antes de dobrar a rua, antes de abandonar o centro do quarto, a mesa, antes de poder te discernir. sigo o que é escasso, o que não se fixa, aquilo que antes assombrava e agora nomeia, onde o maciço de um passado bruto se abandona em fendas. onde a imprecisão vira uma velocidade nunca usada, onde te deixo, onde terra devastada vira campo de pouso e decolagem.

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