quarta-feira, 13 de abril de 2016



como se sorvesse um desses rios cravados no centro da África
tamanha sede, febre
a consciência de estar diante daquilo que não se repete  
moldava o corpo conforme os avanços e os recuos
daquele que subitamente surgia
tateava os ombros, depois os braços e os pulsos
prestando atenção em onde as veias se ramificavam 
na direção múltipla de todos os dedos
beijou seus pulsos como se encostasse o rosto em um mapa
aqueles nomes impronunciáveis 
as fronteiras arbitrárias
o grande rio e a vida misteriosa que abriga
como se tentasse atravessar de uma margem à outra
intuía que todos os passos tinham algo de falso
e quando apertava seus braços naquilo que ainda restava 
sabia que tocava o volume desordenado do que flui e arrasta
o movimento das ondas, o desenho afiado
de seus corpos quando se desfazem sem lástima nem delicadeza
como um mover incomum da terra contra a água 
o anúncio de um deslocamento com consequências drásticas
a porta tremeria
no instante em que decidisse enfim partir
escada abaixo, nenhum freio
adiante encontraria o mais improvável cardume
entre nós, o tracejado de um mapa ilegível
uma travessia que se faz 
pelo silêncio na hora mais crucial de uma noite
pelo silêncio inaudível no centro de uma multidão
pela multidão mais extrema entre duas solidões  

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