como se sorvesse um
desses rios cravados no centro da África
tamanha
sede, febre
a
consciência de estar diante daquilo que não se repete
moldava o corpo conforme
os avanços e os recuos
daquele que subitamente
surgia
tateava os ombros, depois
os braços e os pulsos
prestando atenção em onde
as veias se ramificavam
na direção múltipla de
todos os dedos
beijou seus pulsos como
se encostasse o rosto em um mapa
aqueles nomes
impronunciáveis
as fronteiras arbitrárias
o grande rio e a vida
misteriosa que abriga
como se tentasse
atravessar de uma margem à outra
intuía que todos os
passos tinham algo de falso
e quando apertava seus
braços naquilo que ainda restava
sabia que tocava o
volume desordenado do que flui e arrasta
o movimento das ondas, o
desenho afiado
de seus corpos quando se
desfazem sem lástima nem delicadeza
como um mover incomum da
terra contra a água
o anúncio de um
deslocamento com consequências drásticas
a porta tremeria
no instante em que
decidisse enfim partir
escada abaixo, nenhum
freio
adiante encontraria o
mais improvável cardume
entre nós, o tracejado de
um mapa ilegível
uma travessia que se faz
pelo silêncio na hora
mais crucial de uma noite
pelo silêncio inaudível
no centro de uma multidão
pela multidão mais extrema entre duas solidões
pela multidão mais extrema entre duas solidões
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