Aos caminhantes:
Desata. Recebe do tempo o sentido
dos nossos passos mansos. Já é tarde e não nos conhecemos. Caminhamos pela
noite, eu sei que prendes teu corpo a um centro. Desprende. Estamos longe de
qualquer destino, o centro é o céu da minha boca perdido sob a notícia de um céu maior. Nada
nos acolhe, nenhuma âncora, nenhuma direção. Toco o teu braço apenas para que adivinhes:
não há motivo para estarmos aqui, o que nos trouxe foi a febre de nossas
pernas. Atravessa meu pensamento uma perigosa intenção: que meu mais antigo
destino seja o meu inesperado ardor. Não
há nada que nos preceda, nenhuma secreta conjunção: essa intricada sorte que
nos enreda é filha de nossos ímpetos ainda há pouco indecorosos. Sentes a
lentidão morna que nos protege, essa comunhão violenta e imprópria com tudo que
tem finitude? Esse é o risco que corremos quando abençoamos nossos pés com uma
desmedida vontade de ir. Magia é coincidir ato com apetite, e em estado de magia
os bons corpos se encontram.
Hummm... poxa, que coisa linda!!
ResponderExcluirEu leria seus livros como quem bebe quando tem muito sede!rs
Gosto muito... me encanta.
Gostei dele inteiro... e tem até fragmentos mais poéticos do que o que vou citar... mas gostei dele, achei bonito e intenso...
"Toco o teu braço apenas para que adivinhes: não há motivo para estarmos aqui, o que nos trouxe foi a febre de nossas pernas. Atravessa meu pensamento uma perigosa intenção: que meu mais antigo destino seja o meu inesperado ardor."
Como diz na Bahia, massa!!rs
Beijo