sábado, 5 de maio de 2012

Antônio - Adélia Prado
 
 
Pega na minha cabeça com suas mãos lindas enormes
que eu viro santa.
Me olha com seu olhar um olhar de amor impossível

que renuncio às pompas deste mundo.

Prometo não perturbar teu inabalável propósito de servir somente ao Senhor,

mesmo porque, com Deus, quem poderá competir?

Mas, de uma vez por todas, me deixa saber sem dúvidas:

tuas lindas mãos são lindas mãos de homem,

capazes das maravilhas que podem

as mãos dos homens nas mulheres?

A ti não peço esponsal, que outro marido não quero,

que outro não há pra me ordenar com sua voz poderosa: faz café.

Faz silêncio.

Faz amor carnal.

Traz meu cilício.

Vai passear lá fora enquanto eu rezo,

Taumaturgo, fala.

Me toca pra eu sossegar, que eu, loba, obedeço, mansa.

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