sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dume

"Antinous
(movimento de árvores)

são questões
terça-feira eu prefiro você bem
louco
minha palavra & nada que você acredita
poderá acontecer: ostras olhos injetados Hegel
durma com suas violetas do subúrbio
e a cidade tosse como
um índio com febre
São Paulo acorda em suas coxas
docemente
banho quente com vapor
em espiral flocos de
samambaias eróticas
assim que você espreguiçar eu estarei
sangrando"
(Piva)
Porque sobrevivo a ti
te aceito todo
por toda a parte, em mim
és fúria e zelo
inquilina, a vida
arde arranha
e é bom
te reconheço
o mistério, tão contrário à culpa
e entendo
nosso amor telepático
tu tomando banho
eu na cama
colchão no chão
dor de ouvido
mudez que invejo
a linguagem é uma doença
que pode me curar
isso entendi quando me machuquei
contra a comunhão entre mim e o mundo
pesado e findo
o infinito era mentira
porque só importava o que era quente pulsante
muito perto de cansar

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Amor Monstro

para Jarina Menezes


Menina da terra rachada, dos corpos rachados, do nome de galho e de santa de altar. Mulher-maga, devota dos bichos, da lama, do sal. A vida te arde, te despedaça, te empurra para as beiras, para os limite de um corpo de pé. Quando deitavas, tinhas saudade do mar? Mulher-horizonte, tua pele marcada de sonos profundos, o mosqueteiro leve sobre a cama, tua pele pesando na mesa, teus olhos queimados de sol. Os filhos te saindo do corpo, a carne dos teus filhos sobrando no mundo, teu amor-rabisco, teu fôlego de apneias, de boca a boca com os sustos. Teus dedos sempre prontos a dar de beber aos apetites escuros do mundo, tuas mãos doloridas de tanto gestar. Fazer tudo nascer de dentro do nada, esse é teu dom. Víscera escancarada, te escondes na ferida aberta. Fazes da falta uma sobra, de um corpo arrebentado, um arquipélago de peles em uma cama de magma. Teus gestos-golpe se propagam, tuas mãos se revestem de mundo. Tens parentesco com todas coisas que sentem. Não escondes teus remendos, teus veios profundos, fazes dos espaços ocos tuas catedrais, o estômago é um templo, a boca uma cova profunda, onde tudo descansa e renasce, mastigado e feroz. Nascer foi tua maior lição: vida é movimento pra fora, expulsão, força que não se faz sozinho, nostalgia da víscera, é gritar para poder respirar. Nascer é inevitável. E teus desenhos, inevitáveis, nasciam. E nascias junto deles, nascias mil vezes por ano, celebravas todas tuas idades em cada desenho teu. Todos os teus corpos, tuas peles lisas e tuas peles tortas, todas juntas tramadas em cada figura nascida. E teus seres te escapavam pelos poros, elefantes reis dinossauros gatos mitologias sereias pássaros vermes monstros minotauros pétalas intestinos corvos nuvens infernos lábios, tua pele peneira de poros imensos, por onde tudo pode passar. Teus seres monstruosos, feito da beleza das coisas sem avesso, que tem as vísceras como pele. Teus monstros são como os gestos de amor, coisa toda pulsante que sangra, vive e não se estanca, que é a carne dando cambalhotas em si mesma, convulsa sem sair do lugar. Teus monstros transladam, revolucionam, orbitam, estáticos, são carne toda pedra, fibras de fóssil, coração pulsante de um cometa cadente.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

pequena escura fina
rabisca muros de giz
dança na banheira, água quente e suja
faz buracos nos colchões
perfura canos pregando quadros
corpo espesso e calmo
cores seculares
o sol por dentro
nenhum conceito
só miolo de pão
sem cascas
conjuntos de dormir
respiração forte
dias turvos
céu gelado
a mão dela
linha da vida
a mais funda