terça-feira, 17 de novembro de 2015

Autoconhecimento




Piso na cidade úmida em direção à emergência vinte e quatro horas
Piso na trilha de água quente que liga o calçadão de Copacabana a seu incerto mar
Há uma mulher que lê Hans Staden na praça de alimentação.
Há um homem que confunde todos os corações
Há a suspeita de uma doença rara que se abate sobre um corpo indeterminável
Há uma pilha de livros do lado direito de um braço que se estende
na direção do mais impuro amor
É possível que nesse instante dois contrários se anulem
E que o mistério de um desejo nunca enunciado se revele
num gesto percebido pelos mesmos olhos
que agora levo à emergência vinte e quatro horas
Você limpa os vestígios de um dia de praia
A areia condensada em forma de monte bem no meio da sala
Você passa os dedos sobre o livro do navegador que escapou por um triz
E menciona a possibilidade de coincidir uma experiência sobrenatural
com uma confusão lisérgica e
uma certeza lógica
Essa é a mesma possibilidade que me faz permanecer indo
em direção ao mar, à emergência, à praça de alimentação
Investigando maus súbitos
canibais, mares impróprios para banho
como se olhasse a mim  

Um comentário: