sábado, 8 de janeiro de 2011

Liturgia

Maré, enchente, sagrado movimento. Tudo que é vivo é dança, densidade, tempo, pequenos enredados de equilíbrio e queda. Dizer: sim. Eu sou o mundo em movimento, em minhas domésticas translações, natureza transmutada, regenerada pelo peso. Gratidão pela impermanência, surgimento súbito. Eu te reconheço, encontro breve, pungência frágil, e me encontro ao te soltar. Reverência a tudo que há de agramatical, sabedoria sem léxico, é a ti que recorro no escuro da minha noite . Peço a benção dos Deuses analfabetos. Metafísica orgânica, nenhum motivo que não os musculares. Comer pela minha fome, amar pelo meu desejo de amor, dormir pelo meu cansaço. Nenhuma estrutura maior que a sede, das verdades, só as famintas. Disponibilidade de sentir, a generosidade do instante. Acendo velas, queimo mirra, faço colares de contas, conchas e flores, construo altares efêmeros, ídolos de murta, jejuo, busco o grande silêncio, pratico retiros e êxtases solitários sobre almofadas. Urgência, apetite e cãibra como forma de oração.

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